A qualidade de vida nos orgulha. O narcotráfico nos persegue

Os índices de desenvolvimento humano e de qualidade de vida são destaque em nível nacional. Envelhecer em Lajeado é sinônimo de bem estar. Por outro lado, o narcotráfico, que acompanha a evolução e a urbanização, é uma ameaça permanente. O programa Lajeado Pacto pela Paz consiste em uma reposta importante, mas ainda insuficiente para promover a inclusão e conduzir jovens e adultos de comunidades  vulneráveis a um caminho mais promissor

Uma das cidades com melhores indicadores de desenvolvimento socioeconômico do país. Alta longevidade, renda per capita, escolaridade, atendimento em saúde e empregabilidade acima da média na comparação com municípios de mesmo porte. Estes são alguns dos motivos que garantem destaque na qualidade de vida de Lajeado.

O município é um polo regional que atrai pessoas de outras cidades e de outras regiões. A urbanização acelerada, vivida a partir de meados dos anos 90, trouxe consigo alguns problemas, como o avanço da criminalidade, em especial do tráfico de drogas.

Essa chaga da sociedade ameaça as conquistas sobre o desenvolvimento humano. Meios para travar o avanço das gangues que comandam a venda de drogas tornam-se um aspecto de contínuo cuidado e atenção por parte dos entes públicos, das forças de segurança e das organizações civis.

O delegado regional de polícia, José Romaci Reis, destaca a estratégia para frear o domínio das facções. Operações conjuntas em áreas deflagradas pelo tráfico, investigação persistente para descobrir a autoria dos assassinatos fazem parte do cerco ao narcotráfico.

Na avaliação dele, esses são os motivos para a retração nos indicadores criminais do Vale do Taquari e de Lajeado. Pela análise, 2020 foi de queda em todos os crimes na cidade (confira o quadro).

“Tivemos uma situação atípica em janeiro passado, quando houve assassinatos derivados de disputas e acertos de contas entre grupos rivais”, diz o delegado. Para Reis, a redução no número de assassinatos vem sendo vista desde 2019, quando foi criada uma estratégia de combate pontual. O modelo integrado aproxima órgãos de segurança, promotoria de Justiça, Judiciário e integrantes dos governos municipais.

Destaque nacional

Pelo Índice de Desenvolvimento para a Longevidade (IDL), feita pelo Instituto Mongeral Aegon em 2020, Lajeado ficou em 21º lugar do país no ranking de qualidade de vida da terceira idade.

Os dados analisados partem dos indicadores oficiais sobre renda, trabalho, moradia, acesso a escolaridade, violência urbana, saúde e políticas públicas. Para formular o ranking, foram selecionados 876 municípios e divididos em dois grupos. Entre as de  médio porte, onde está Lajeado, foram 596 cidades analisadas com menos de 100 mil habitantes.
Pelo relatório, Lajeado se destaca pela importância socioeconômica na região. Entre os pontos positivos, as variáveis de renda, trabalho e educação aumentam as notas da cidade. Conforme o instituto, o número médio de horas-aula da população é um dos dez maiores entre os municípios de médio porte.

Na análise da economista e mestre em Desenvolvimento Regional, Cintia Agostini, o destaque em qualidade de vida tem relação com a formação da cidade e dos valores prezados pela população. “Dedicação ao trabalho, fazer economias como forma de se preparar para alguma dificuldade e ter iniciativa para empreender são algumas características da comunidade local, não só de Lajeado, mas de diversas cidades do Vale do Taquari.”

Como ponto negativo, o estudo aponta uma alta incidência de crimes com uso de armas de fogo, o que reduz a pontuação de Lajeado no ranking nacional.

Esforço conjunto para conter assassinatos

A presença de grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas nas cidades eleva as ocorrências de crimes, diz o secretário de Segurança Pública de Lajeado, Paulo Locatelli. Junto com isso, há outra característica: a cooptação de jovens, muitos menores de idade, para atuar nas organizações criminosas.

Nos conflitos entre diferentes grupos, seja para conquistar território para venda de entorpecentes, quanto para acerto de contas, acontecem os assassinatos. Na análise da Polícia Civil, 80% dos crimes contra a vida têm relação com o tráfico.

As autoridades locais têm na memória o ano em que ficou clara a presença desses grupos criminosos na cidade. O ano de 2014 marca a instalação de facções vindas da Região Metropolitana. Isso impactou nos homicídios. Naquele ano, 33 pessoas foram assassinadas na cidade, maior número já registrado na história.

De lá para cá, a média de assassinatos se manteve mais alta do que o normal. “Em 2019, o município decidiu enfrentar o problema como uma prioridade. Partiu-se do entendimento de que esse assunto não poderia ficar apenas nas costas das polícias, do Ministério Público e do Judiciário”, relembra Locatelli.

A partir do esforço conjunto, as instituições elaboraram um plano de ação, tanto das forças de segurança e de Justiça, quanto na área de prevenção. Dessa união nasceu o Pacto Lajeado pela Paz.

“Todas as forças começaram a se reunir uma vez por mês para analisar conjuntamente os dados e desenhar estratégias. Passamos a fazer operações integradas”, diz Locatelli. De acordo com o secretário municipal de Segurança, cada vez que ocorre um homicídio, esse grupo inicia a troca de informações sobre o caso, até que os envolvidos, inclusive mandatários do assassinato, sejam encontrados.

Esse é o braço do pacto voltado à repressão. Ao lado desses movimentos, Locatelli destaca os projetos de prevenção, com iniciativas destinadas às famílias em situação de risco, nas escolas, com um trabalho em rede voltado à solução de conflitos. “A ideia do Pacto Lajeado Pela Paz é disputar todas as crianças e adolescentes, para que possam se desenvolver sem se envolver com a violência e com as drogas.”

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