Posição estratégica, mas prejudicada pela falta de infraestrutura

Apesar da localização privilegiada, perto da região metropolitana e com importantes rodovias no entorno, Lajeado tem problemas internos de mobilidade urbana a resolver. Com um dos maiores índices de carro por habitante, a cidade é desafiada a se projetar para as pessoas. Gargalos complexos já se erguem no sistema viário e requerem uma resposta urgente e profunda para que os entraves não se acentuem e deixem a cidade travada em relação a mobilidade.

Lajeado é ponto de ligação entre as regiões mais desenvolvidas do Estado. Fica próximo da Serra, da Região Metropolitana e da capital. Essa posição geográfica é um ganho estratégico para políticas de desenvolvimento econômico e de logística.

Há ligação pela BR-386, rodovias estaduais importantes, como as ERSs-130 e 453. Ao mesmo tempo em que se tem aspectos positivos, também há dificuldades. O aumento na frota de veículos, somado à falta de planejamento adequado, lota a área urbana e as rodovias.

Em quatro entroncamentos com estradas movimentadas, há congestionamentos diários. Os trevos do Posto do Arco e da BRF, além das entradas para os bairros Montanha e Conventos, são provas de como a falta de planejamento viário traz impactos sobre o fluxo de pessoas e veículos.

O tempo perdido no trânsito de Lajeado ainda está distante do visto no eixo Rio-São Paulo. Ainda assim, frente ao crescimento da frota, a tendência é de aumento nos locais de engarrafamentos, analisa o urbanista Augusto Alves.

Esse trânsito lento, constante e com vários pontos de conflito é comum em cidades cortadas por tantas rodovias. Soma-se a isso um dos maiores índices de motorização do RS, ruas estreitas e rodovias estaduais com pouca infraestrutura.

Lajeado representa 25% de toda frota veicular da região. São quase 70 mil veículos, o que representa um índice de 0,8 veículo por habitante. “A cidade cresceu sem algumas medidas importantes. Sem se preparar para os desafios gerados pelo aumento da população e da densidade das áreas centrais”, analisa Alves.

Planejamento em curso

Como município polo do Vale do Taquari, pensar a mobilidade urbana é se voltar a um tema estratégico para toda a região. Com a maior população do Vale, Lajeado recebe todos os dias milhares de pessoas de outras cidades. Seja para trabalho, estudo ou lazer, usufruem dos serviços e estabelecimentos comerciais.

Para Alves, a situação enfrentada por pedestres e motoristas tem como origem a falta de uma política de planejamento urbano ao longo do tempo. Na avaliação dele, há alguns movimentos em curso para sanar esses problemas.

“Lajeado tem chance de mudar esse quadro com a revisão profunda feita no Plano Diretor e a partir de uma reestruturação da mobilidade urbana. Não é viável resolver essas questões apenas com obras viárias, mesmo que elas sejam muito importantes.”

Dentro disso, relembra o histórico da urbanização de Lajeado. Na avaliação dele, a mobilidade urbana não foi pensada como um todo e as melhorias são feitas apenas em questões pontuais de trânsito, como mudanças no sistema viário.

Por muitas décadas, as propostas surgiram apenas vendo questões pontuais na malha viária. “O uso do carro não é questionado, pelo contrário, é considerado como o meio de transporte hegemônico. Na medida em que mais pessoas começam a comprar

esses veículos, o trânsito se inviabiliza.”

O que Lajeado precisa para ser uma “cidade inteligente”?

Para responder essa pergunta, o primeiro passo é entender o conceito de cidade inteligente. De acordo com a arquiteta e urbanista, vice-presidente da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Taquari (Seavat), Cátia Berteli, esse nome foi usado para definir municípios que conseguem otimizar o uso de recursos necessários à vida das pessoas, oferecendo melhor qualidade de vida a partir do uso de tecnologias alinhadas à sustentabilidade ambiental e progresso social.

“Para Lajeado ser considerada cidade inteligente, é preciso investir em tecnologia, em planejamento e mobilidade urbana”, destaca. Quando se olha para a questão do trânsito de veículos e pessoas, é preciso conciliar o conhecimento e as ferramentas tecnológicas para identificar padrões, fluxos de carros e pessoas, tempo de espera nos semáforos.

“É preciso adotar atitudes mais arrojadas politicamente. Cada cidade precisa identificar seus problemas, conhecer o perfil dos seus cidadãos para então criar as suas soluções”, resume Cátia.

Para ela, o essencial é disponibilizar serviços de qualidade às pessoas, possibilitando o deslocamento, acesso aos espaços e equipamentos públicos que fortaleçam a cultura, a ciência e a inovação.

Gargalos na mobilidade

Trecho urbano da BR-386 em Lajeado

Problema

No estreitamento de pista, depois do viaduto sob a ERS-130, o tráfego da cidade se confunde com o da rodovia federal. Surgem engarrafamentos na entrada para os bairros (como para o Montanha, na foto) nos horários de pico. Sem rotatórias, também há travessias de veículos pela pista. Isso representa riscos de acidentes.

Solução:

No contrato de concessão da rodovia, estão previstas vias laterais da ligação com a ERS-130 até o loteamento Lacen, em direção a Forquetinha. Serão dos dois lados e independentes da BR-386. Também existe a definição para obra de três travessias entre os bairros. No Montanha, outro logo após a Florestal Alimentos e um acesso superior para o bairro Conventos. Com isso, o trânsito de Lajeado não precisaria ingressar na BR-386. 

Av. Senador Alberto Pasqualini – Lajeado

Problema

A coincidência de horários entre pessoas saindo do trabalho e estudantes indo para a aula na Univates torna o fluxo lento. Foi feita a ampliação da avenida, mas foi insuficiente.

Solução:

O governo negocia com o Dnit um acesso secundário ao bairro. A ideia é dar uma alternativa para os moradores para se deslocarem sem precisar ingressar na Av. Pasqualini.

Av. Benjamin Constant entre o Florestal e o Montanha

Problema

No início e no fim do dia, engarrafamentos frequentes devido ao alto fluxo de veículos.

Solução:

O município trabalha no alargamento do viaduto sobre a ERS-130, o que traria mais condições de trafegabilidade.

ERS-130 nas imediações da BRF, em Lajeado

Problema

Alta concentração de pessoas devido às indústrias instaladas às margens da rodovia, fluxo constante de caminhões e também ao movimento de moradores dos dois bairros.

Solução:

Projeto prevê a construção de uma passagem subterrânea, chamada de passagem de nível, para desviar o trânsito urbano do movimento intermunicipal da rodovia. A obra se assemelha ao viaduto nas proximidades do Posto do Arco.

ERS-130. Posto do Arco

Problema

Movimento intenso com diversos pontos de engarrafamentos. Começam nas proximidades da rodoviária de Lajeado e se estendem em direção à Arroio do Meio, tendo como ponto mais problemático as imediações do Posto do Arco. A situação foi atenuada com o viaduto entre o Campestre e o Universitário. No entanto, os acessos aos bairros cruzando a rodovia tornam o trânsito confuso e perigoso.

Solução:

A duplicação é tida como uma possível alternativa de longo prazo. De forma paliativa, se estuda a retirada da sinaleira sobre a rodovia, algo que poderia evitar os congestionamentos.

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