“Uma Câmara só vai ajudar se houver diálogo”

“Uma Câmara só vai ajudar se houver diálogo”

Isidoro Fornari Neto possui mais de 30 anos de atuação no Poder Executivo. A partir de 2021, ele encara um novo desafio: o plenário do legislativo. E logo no primeiro ano, o engenheiro concursado da Prefeitura assume a presidência do principal parlamento do Vale do Taquari. Na entrevista, ele discorre sobre austeridade, sede própria e a necessidade de retomar o apoio da sociedade

O que lhe motivou a ser um vereador em Lajeado?

Poder fazer mais pela sociedade. Já fizemos bastante em um setor, no executivo, e as vezes nos falta protagonismo nas decisões da outra ponta. E isso muitas vezes nos desmotiva, porque almejamos algo e não alcançamos. Na câmara, por meio do diálogo, será possível avançar. No Executivo, você fica dependente de muitas ações do Legislativo. E eu sigo no Executivo, onde já são mais de 30 anos, e agora busco novas experiências e desafios para melhor argumentar sobre nossas melhorias. Por exemplo, estamos debatendo com secretário de Planejamento algumas alterações na forma de análise de projetos de construção civil, para agilizar os empreendimentos. Como vereador, eu tenho mais facilidades para fazer esse intermédio. Como vereador, garanto mais autonomia para buscar soluções para melhorar a vida das pessoas.

Na sua opinião, quais são as principais tarefas e responsabilidades do presidente da Câmara?

Primeiro é garantir a harmonia. Uma câmara só vai ajudar se houver diálogo, harmonia e se não houver “briguinhas políticas”. É preciso deixar as “picuinhas” de lado. Vamos discutir ideias. Trazer sugestões. Criticar por criticar, não ajuda. Vamos juntar as ideias e trazer a força para Lajeado. Temos vereadores de oposição que não se preocupam com emendas, por exemplo. Apesar de eu ser contra o sistema, as emendas ajudam o dia a dia da nossa cidade. Ora, se estão à disposição, alguém vai ficar. Não podemos deixar passar dinheiro enquanto está à disposição. Outras regiões ou cidades vão atrás. Também nos cabe fiscalizar o Executivo e buscar e informações para a população. Mas, essencialmente, a tarefa é garantir o bom diálogo.

O que não é função do vereador?

Eu acho que não é função de vereador colocar no “boletim” uma troca de lâmpadas, um pedido de lixeira ou coisa do gênero. Isso não precisa passar desta forma pela Câmara. Fazer isso só para constar no “boletim” é politicagem. O vereador até pode ir atrás dessas pequenas demandas. Mas há formas mais ágeis para isso, ligando para os setores e responsáveis. Isso não precisa passar pela burocracia da câmara. Esses tipos de pedidos, da forma como são conduzidos, desmerecem a importância do vereador.

Você é a favor ou contra a compra ou construção de uma sede própria para a Câmara de Lajeado?

Sou favorável. E quero fazer. Mas com uma Comissão de Obras formada por todos os partidos interessados em participar, inclusive com participação dos setores da construção civil. Não será uma decisão monocrática. A ideia é fazer um processo da forma mais clara possível, atendendo todos os tramites da legislação municipal, com o mínimo de recursos necessário. Um espaço enxuto para ser utilizado pelos parlamentares e pela sociedade civil. Hoje avaliamos três situações mais próximas. A compra do prédio da Acvat, a construção na antiga Praça Mário Lampert, e uma terceira possibilidade que é o antigo prédio dos Correios. Mas nada impede que outras propostas sejam avaliadas. A nossa preferência é pelo Centro Antigo, como uma forma dar o exemplo para resgatar esse ponto da cidade.

A sociedade cobra austeridade. É possível reduzir o número de Cargos Comissionados (CCs) por meio de uma Reforma Administrativa?

Eu estou iniciando agora. Mas não vamos ocupar uma boa parte dos CCs disponíveis aos vereadores. Especialmente os Assessores de Comissões. É uma decisão do partido, da base do governo. Vamos economizar. Mas ainda estamos tomando conhecimento de todas as funções para eventuais decisões. Tem os dois lados. Não adianta tirar cargos só para agradar a imprensa e de repente deixar a Câmara “capenga”. Mas, se for necessário cortar, vamos cortar. Em um primeiro momento, vamos deixar de ocupar três CCs neste ano. Antes era um CC para cada Comissão. Agora eu vou colocar duas comissões sob responsabilidade de um só CC. Inicialmente vai ser nesta linha. 

Os mais extremos cobram uma Câmara formada por vereadores voluntários. Qual sua opinião?

Eu acho que ainda é cedo. Já foi desta forma, eu sei, e pode ser que um dia se evolua novamente para isso. Mas com o sistema atual, é um assunto complicado. É preciso amadurecer muito para avançarmos com esse debate. Inicialmente, precisamos convencer as pessoas que se importam com a comunidade para que se envolvam mais com a política. Nosso desafio é demonstrar serviço e resgatar o respeito junto à comunidade. Hoje a pessoa despreza o político. Antigamente era diferente. Precisamos convencer a sociedade a acompanhar a política e voltar a ter orgulho da política e de seus representantes eleitos pelo voto.

Alguns colegas seus garantem que vão atuar 100% do tempo como vereadores durante os próximos quatro anos. Para você, vereador é profissão?

Não. Eu já falei isso em outras oportunidades. Vereador é um representante, e não uma profissão. E sou favorável a uma única reeleição. Se quiser voltar, fica quatro anos fora e depois coloca o nome à disposição novamente. Isso também vale para todos os cargos eletivos, nos diferentes níveis. Estadual e federal. Executivo e legislativo.

A Câmara de Lajeado é conservadora, ou ela tende a atentar mais pela inovação?

Com a renovação, com essa nova composição, tende a ser mais inovadora. Só o fato de apresentar nomes que nunca haviam participado da política nos mostra que há uma tendência pela renovação.  Acho que não será uma Câmara conservadora. Eu estou aberto a novas ideias.

Lajeado tem uma economia diversificada mas ainda apresenta índices consideráveis de pobreza. O que falta para um melhor equilíbrio?

Estamos muito mais próximos de uma sociedade equilibrada do que muitos municípios brasileiros. Temos diferenças de nível econômico dentro da cidade, sim, mas não tão sérios como em outras regiões do Estado e do país. Mas há problemas. E para melhorar, para amenizar, eu vejo um caminho principal: investir cada vez mais em educação. Só vamos melhorar quando a educação de excelência atingir todas as camadas sociais. A dificuldade para uma camada da sociedade subir na vida é extrema. Precisamos garantir igualdade de condições na base para um futuro melhor. A educação é a grande meta para chegarmos a uma sociedade com menos desníveis sociais. 

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