Voluntariado e cobrança por austeridade no Poder Público

Voluntariado e cobrança por austeridade no Poder Público

Lajeado é exemplo de solidariedade e voluntariado. São diversas as organizações beneficentes, nos mais variados segmentos, que contribuem com a inclusão social, segurança e saúde da população. Embora uma boa parte da sociedade faça a sua parte pelo coletivo, ainda percebem-se atrasos e desproporções no que diz respeito ao uso do dinheiro público. A austeridade tem sido um mantra cada vez mais forte no sentido de exigir da classe política mais responsabilidade com os recursos e menos gastos com regalias ou despesas supérfluas.

Na manhã do dia 12 de janeiro de 2021, o empresário José Zagonel recebeu uma mensagem no celular. Era um pedido encaminhado pela Vovolar, uma das mais tradicionais casas de repouso de Lajeado. A entidade carecia de nove ar condicionados para garantir maior conforto aos idosos que vivem no local. Um dos pioneiros no setor da construção civil no município, Zagonel participa de um grupo no Whatsapp com outros líderes empresariais da cidade. Prontamente, a solicitação foi compartilhada com os demais integrantes e, em menos de 24 horas, a Vovolar foi contemplada com a doação de 11 novos aparelhos.

“O povo de Lajeado é muito solidário. E eu fico muito feliz com essa singela conquista”, resume Zagonel, que recentemente recebeu o título de Cidadão Lajeadense. “Eu aprendi desde criança. Os meus pais eram muito solidários. A comunidade sempre foi muito solidária. Naquele tempo, quando nascia uma criança, surgiam ‘babás’ para trabalhar de graça. Um vizinho ajudava o outro. Eu entendo que a ajuda é uma realização pessoal. Quem dá, sente-se mais feliz do que quem recebe”, afirma. “E aqui na nossa Lajeado, muitas pessoas que fazem trabalho voluntário, além de não receberem remuneração, ainda ‘puxam’ dinheiro do próprio bolso”, reforça.

Zagonel é membro de uma das mais ativas organizações sociais de apoio a causas humanitárias da cidade, o Lions Clube Lajeado Florestal. Entre as mais diversas ações já realizadas pela entidade fundada em 1976, destaca o projeto “Compartilhando a Dádiva da Visão”, que contou com patrocínio de empresa e cooperativa regional para atender mais de 20 mil estudantes de 123 escolas públicas de ensino de 11 municípios da região. “Entregamos o primeiro par de óculos para uma criança haitiana com problemas visão. Ele disse: agora eu posso tudo. E isso não tem preço. Solidariedade é isso. Nem sempre é preciso dar dinheiro. Mas, sim, garantir esperança”, reforça.

Além do Lions Clube Lajeado Florestal, a cidade também conta com o Lions Clube Lajeado, fundado em 1958. Além desses, a sociedade é beneficiada com ações sociais do Rotary Club Lajeado – Engenho, Rotary Club de Lajeado, JCI e Rotaract Club Lajeado, dentre outros. Os voluntários atuam no auxílio à outras entidades, formando uma rede de voluntariado ativa e atuante no principal município do Vale do Taquari. Os serviços se concentram junto à Saidan; Clínica Central; APAE; Fundef; Liga Feminina de Combate ao Câncer; SLAN; Amigas do HBB; Casa da Acolhida; Alsepro; Lar São Chico; a própria Vovolar; Tabita Lar do Idoso; Adefil; Apama; Aldeia Indígena; entre outros.

Voluntariado e cobrança por austeridade no Poder Público

O protagonismo do voluntariado

Há muitos voluntários por detrás de corporações e cujo trabalho não é de conhecimento geral do público. “O Hospital Bruno Born (HBB) possui um conselho de administração que trabalha voluntariamente há quase um século. A Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social (Fuvates) também atua da mesma forma há quase meio século”, informa o ex-Reitor da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Ney Lazzari, hoje presidente da Fuvates, uma entidade de ensino de caráter comunitário e beneficente de direito privado e sem fins lucrativos, e mantenedora da universidade local. Muitas escolas também surgiram de conselhos voluntários.

Já o empresário Rogério Wink chama a atenção para o protagonismo das entidades civis organizadas, e o resultado gerado pelas ações dos voluntários que integram as respectivas diretorias. Entre essas, a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), “Muitas feiras regionais surgiram de dentro das entidades sem fins lucrativos. Podemos citar a nossa Expovale, a Construmóbil, ou mesmo a antiga Turisfeira. O nosso trabalho voluntário é quase como um processo natural. Eu, por exemplo, estudei em escola comunitária. Aprendi desde cedo a exercer atividades voluntárias”, cita ele.

Readequação do Poder Público

Até meados da década de 70, a Câmara de Vereadores de Lajeado não pagava subsídios aos parlamentares. Era um trabalho voluntário. Hoje, além do subsídio mensal de R$ 7,7 mil, o legislativo lajeadense emprega 42 Cargos Comissionados – e apenas quatro servidores concursados. O custo mensal só com a folha pessoal dos CCs é de R$ 184 mil. Uma média de R$ 4,4 mil por servidor. Um valor acima da média paga, por exemplo, aos funcionários da Acil. Na associação, a folha mensal bruta dos 15 funcionários gira em torno de R$ 52 mil com todos os encargos. Uma média salarial de R$ 3,4 mil para atender setores de eventos, qualificação empresarial, convênios, Parceiros Voluntários, comunicação, RH, gerência, emissão de certificados, entre outros.

Um dos sócios-fundadores e atual presidente do Lions Clube Lajeado Florestal, Ilvo Persch resume o anseio da comunidade em relação aos poderes Executivo e Legislativo municipais (hoje a prefeitura gasta cerca de R$ 9 milhões mensais com a folha de pessoal pouco mais de dois mil servidores). “Acredito na necessidade de todos os poderes buscarem uma readequação na administração dos nossos recursos, ajustando as disponibilidades financeiras a uma nova realidade. Assim como nas famílias, nas empresas sempre é hora de olhar, ajustar e replanejar. Se fizermos isso também nas verbas geradas por meio dos impostos dos contribuintes, certamente acharemos caminhos para poder compartilhar e colocar valores adequados a todos em todos os poderes.”

E Persch é uma autoridade no assunto. Ele iniciou sua vida de voluntário aos 26 anos, em 1976. “A fundação do clube, sua organização e o começo das atividades voluntarias, foram extremamente importantes para mim e com certeza aos demais companheiros do clube. Pude conhecer melhor a cidade, seus meios políticos, comerciais, e as suas necessidades que, por vezes, não podiam ser atendidas integralmente pelos recursos públicos. Assim construímos alianças com diversas entidades e buscando apoios junto à comunidade que responde com muito carinho às causas de voluntariado”, resume ele, citando parcerias com paróquias, clubes esportivos, sociais e outras associações. “Temos entidades fabulosas, e não só em clubes de serviço”, finaliza.

Leia também: